Com dificuldades de arrecadar recursos para pagar as dívidas que contraíram durante a campanha de 2014, dirigentes do PT temem que o partido se torne alvo de uma enxurrada de processos movidos por credores na Justiça.
Integrantes da cúpula da legenda avaliam que essas cobranças poderiam levar diretórios de grandes colégios eleitorais, como São Paulo, à asfixia financeira.
Os petistas fecharam o ano passado com dívidas volumosas em diversos Estados. Os débitos eleitorais ultrapassaram a casa dos R$ 90 milhões.
Segundo dados do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), só a instância paulista do partido registrou um deficit de R$ 55 milhões –arrecadando R$ 57 milhões e gastando cerca de R$ 112 milhões.
A cobrança desse passivo, avaliam, levaria o partido a um “garrote administrativo”, comprometendo o desempenho da sigla pela via financeira nas próximas eleições.
Com alguns dos principais doadores envolvidos em escândalos de corrupção, a legenda não tem conseguido levantar esses recursos.
Dois ex-tesoureiros do partido, por exemplo, estão presos. João Vaccari Neto é acusado de envolvimento no esquema de desvios da Petrobras, e Delúbio Soares foi condenado pelo mensalão.
A situação ficou ainda mais grave quando a direção nacional do partido decidiu, em abril deste ano, encampar um discurso moralizador e proibir o recebimento de doações empresariais antes mesmo de o Congresso aprovar legislação sobre o tema.
A preocupação é maior entre dirigentes estaduais do partido que contraíram dívidas milionárias, mas perderam a disputa local. Passadas as eleições, o presidente do PT, Rui Falcão, enviou comunicado informando que o diretório nacional não arcaria com esse passivo e que caberia aos então candidatos e às lideranças regionais pagar os débitos.
Publicamente, os petistas não tratam do assunto mas, em avaliações internas, os mais pessimistas analisam cenários que vão desde o bloqueio de parte do fundo partidário –hoje em R$ 90,6 milhões anuais– até a possível apreensão de bens do partido e de seus dirigentes.
A sigla calcula que o deficit pode crescer ainda mais, já que é comum a Justiça determinar a cobrança de multa e juros sobre pagamentos feitos com atraso.
Num cenário extremo, em que as dívidas levassem a um bloqueio do CNPJ do PT, dirigentes da legenda vislumbram a criação de entidades paralelas, como associações, para viabilizar pequenos pagamentos e contratações pontuais de funcionários. Seria um “arremedo”, dizem, que poderia ajudar a manter a sigla funcionando.
Uma experiência desse tipo já foi feita na capital paulista quando não existia a figura do diretório municipal, há dez anos. Nessa ocasião, o partido operava por meio da Associação Paulistana dos Trabalhadores. (da Folha)