PT DE QUIXADÁ: Cada dia mais deformado

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“O partido também começou a entrar na mesmice dos outros partidos.” Essas palavras foram proferidas pelo ex-presidente Lula, em entrevista à revista Carta Capital, divulgada nesta sexta-feira, 30.

O partido sobre o qual ele fala é o próprio PT, do qual é presidente de honra. A avaliação de Lula se refere ao quadro nacional. Para ele, “o partido começou a utilizar-se das mesmas práticas dos outros partidos”. O ex-presidente não explicou de quais práticas estava falando, mas disse que não se pode permitir que “meia dúzia de pessoas” deformem a imagem do PT.

Se Lula acha que meia dúzia de pessoas estão deformando a imagem do partido na esfera nacional, ele precisaria ver de perto o que anda acontecendo com a legenda em Quixadá, no sertão central cearense.

O que era o PT em Quixadá e o que é hoje?

A eleição do ex-prefeito Rômulo Carneiro tinha grande potencial para fincar por muitos anos o controle do executivo quixadaense nas mãos do PT. Porém, desavenças, desencontros de interesses particulares, divisões insanáveis entre aliados e muito fogo amigo transformaram o PT no principal rival do próprio PT. O cenário hoje é desencantador.

Superado nas urnas em 2012, quando utilizou sua arma de maior calibre – o nome do ex-prefeito Ilário Marques -, o partido entrou numa espécie de redemoinho, e até hoje se volta com mais força para si mesmo e pouco afeta a vida cotidiana dos cidadãos.

Para o parlamento quixadaense, o partido conseguiu eleger no último pleito a vereadora Rosa Buriti e os vereadores  Higo Carlos, Ereni Lima e Ivan Construções. É notável que os quatro não dançam conforme a mesma música. Uma é leal ao comandante vermelho até as últimas consequências; outro deixa escapar sua completa insatisfação e vai de encontro aos desejos de quem detém o controle partidário, até mesmo manifestando apoio a candidatos não chancelados pelo comando local. E se um está focado em defender seu nome de graves acusações, outro flerta com o poder executivo. O resultado é que a atuação dos edis petistas possuem caracteres de individualismo e não de trabalho conjunto. O mesmo se pode afirmar acerca de toda a bancada de oposição.

A atuação parlamentar nestes moldes tende a enfraquecer o PT em Quixadá, cuja influência tem se resumido a discursos inflamados no parlamento. O partido não mobiliza mais como antes. Não grita como antes. Não convence como antes.

O que explica esse fenômeno deformador?

O mesmo que explica todo grupo dividido: ausência de liderança capaz de promover atuação unida. Ilário Marques é um grande líder político, isso até mesmo seus oponentes reconhecem. Possui uma história riquíssima de atuação dentro do partido. É integrante da cúpula que controla os destinos do partido no Ceará. Paradoxal como possa parecer, essa influência toda não tem servido muito para integrar e manter coesos os correligionários quixadaenses. E mesmo quando a influência dele vem de cima para baixo dobrando todas as posições em contrário e fazendo o partido mover-se conforme seus desejos, o movimento acontece com muito custo, com grande desgaste e, não raro, má vontade.

Hoje, o que mantém os cabeças petistas locais orbitando o nome de Ilário é o grande e poderoso carisma que o político ainda desfruta junto ao eleitorado. Nenhum outro nome nas fileiras do PT de Quixadá conseguiu alcançar metade da metade da capacidade carismática de Ilário Marques.

Constantemente voando em céus distantes da Terra dos Monólitos, Ilário tem deixado a oposição petista – que sempre foi caracterizada pela sua impressionante força mobilizadora -, entregue a não sei quem. Talvez entregue a ninguém. Se existe de sua parte alguma articulação e tentativas de organizar a oposição, estas são invisíveis para a grande massa.

Ilário parece acreditar que não deve se envolver muito nos trabalhos da oposição. Parece entender que basta se relacionar à distância com a bancada do partido que já é suficiente. Mas este tipo de postura tem diminuído a capacidade de fogo do partido, cada vez mais deformado, cada vez mais diferente do que sempre foi.

A ordem é que a prioridade seja a reeleição da Deputada Rachel Marques, cujo nome, ao lado do Deputado Osmar Baquit, enfrenta grande desgaste junto à população. E nem no próprio partido se consegue unanimidade em torno disto.

Não seria o caso de Ilário voltar a dar mais atenção às questões políticas locais, sem, contudo, abrir mão do que já conquistou dentro do partido no âmbito estadual? Se não fizer isso, será uma questão de tempo até que o PT de Quixadá deixe o protagonismo para assumir posições coadjuvantes na política do município.

Para confirmar tudo o que até aqui foi exposto, vale lembrar palavras do próprio Ilário, em entrevista concedida ao antigo Blog Jaime Arantes, em julho de 2013: “O PT de Quixadá é uma força política de referência, tanto na cidade como no Estado; por isso o nosso compromisso é com a unidade partidária, principalmente agora que temos que organizar a oposição. Eu tenho a responsabilidade de buscar a unidade.”

O anseio por liderança capaz de integrar e unir a oposição é plenamente sentido por todos os parlamentares petistas e por praticamente todos os filiados ao partido. Ou alguém acha mesmo que se Ilário Marques tivesse organizado a atuação da bancada de oposição nos moldes cara a cara e olho no olho, a sessão da câmara desta sexta-feira teria sido do jeito que foi?

Em outra perspectiva, a ausência da atuação mais concentrada do petista nas questões políticas locais abre espaço para o surgimento de outros nomes para os quais os grupos de oposição podem acabar voltando os ouvidos. Porque desde que o mundo é mundo tudo o que os grupos precisam é de liderança.

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Comentários

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  1. Ilário já representou a perspectiva de uma nova política. Lembro bem quando recitei um poema com oito anos de idade no palanque da sua primeira eleição. Acho que 88. Eu e muitos outros estávamos empolgados com a cara da nova politica. Sempre fui apaixonado pelo ideal de mudança que o PT trazia consigo. Mas é preciso ser tal qual um fundamentalista islâmico que aguarda suas virgens no paraiso para não enxergar que Ilario e o PT de Quixadá são hoje a fina flor de representação do velho modo de se fazer política. O de sempre. Falta ideologia e ideais. Sobra acordos do velho toma lá da cá. Falta compromisso com os gastos públicos e sobram denúncias com sérios fundamentos. O calçamento nunca feito, a merenda que não chega, o carro alugado por valores absurdos, o prédio que racha logo após a construção,o hospital que funciona mal…o PT é a mesma coisa de fato. Nada mudou. Por amar minha cidade gostaria muito de ver surgir um nome nome. Só o nome não, isso eu já vi. Quero uma nova forma de fazer política. Quem dera! Quem dará?

  2. Só sei de uma coisa, na esfera federal não há outra opção melhor para a presidência do que o governo do PT, mesmo com a corrupção, mesmo sabendo que a presidente Dilma deverá melhorar muito a sua administração, pois a corrupção existe do outro lado também. A atual oposição já é conhecida pelos seus atos e não ter mesmo proposta de mudanças, mudanças que venham a beneficiar com prioridade o trabalhador brasileiro, na área da saúde, educação, etc. O Nordeste e o Norte tem se desenvolvido e já há avanços na área social. O que o povo precisa é de partidos realmente fortes e preparados para governar em prol do povo e sem jogo de interesses de grupos. Os caciques já não merecem mais crédito. Não dá mais para aturar os chefões que querem ditar tudo, pois não precisamos de reis, precisamos de pessoas que administrem mesmo que sejam lideranças do povo …..

  3. Tudo tem o seu tempo e por isso devemos fazer o máximo de aproveitamento em coisas boas. O maior partido politico do ocidente foi o PDS, e hoje pouco se conhece. Os partidos politico no Brasil é mais uma junção de interesses proprios dos seus integrantes, de que um partido politico. O tempo mostra toda a verdade do universo.Nenhum reinado na terra é eterno.

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