Afinal, de que matéria Deus fez a mulher?

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Enquanto aguardava minha mãe sair da farmácia, usufruía da frondosa sombra de uma acácia na Praça José de Barros, no Centro da cidade de Quixadá. O vento, de forma aleatória, arremessou e enroscou em minhas pernas um papel que vinha sendo tangido ao léu. Ao tentar retirar o papel, de súbito, um título em letras garrafais e em negrito me chamou a atenção: “Quando Deus fez as mulheres”. Ao ler o revelador texto, não me contentei e pus-me a refletir sobre esse ser divinal, em uma espécie de paráfrase do escrito. Perguntei-me, afinal, de que matéria Deus fez esse ser tão especial e complexo que denominou mulher?

O texto, de autor desconhecido, falava de uma lenda sobre o dia em que Deus criou as mães, quando o Criador foi inquirido: “Por que tanto zelo com aquela criatura? Por que ela é tão especial?”

E, diante das indagações, o Criador revelou por que a mulher, a outra face da criação, teria um papel tão significativo: o de mãe. Por isso, merecia especial cuidado, elencando uma sequência de atributos:

Mãos hábeis e ligeiras para agir ao cuidar da alimentação dos filhos, ao mesmo tempo em que cuida de outras tarefas essenciais;

Mãos capazes de acarinhar sem, contudo, deixar de ser firmes ao transmitir segurança ao filho nos passos vacilantes;

Mãos capazes de transformar um pedaço de tecido, quase insignificante, em uma roupa especial de festa;

Conhecimentos de enfermagem e medicina da alma, aplicando curativos nos ferimentos do corpo e bálsamo nas chagas da alma ferida, magoada e desiludida;

Uma mulher capaz de superar a própria enfermidade em benefício dos seus amados e de alimentar uma família inteira com a partilha do pão do amor;

Um ser capaz de exercer a diplomacia nata como medianeira de soluções, propondo a unidade em meio à diversidade, fazendo acordos com as mais diversas faixas etárias;

A melhor companhia nas horas de incertezas, medos e aflições, inclusive nas horas de reinações e contações de histórias;

A que, sendo dócil, se transforma em fera na defesa da família, que, apesar das contrariedades e dos desafios, ergue a cabeça e sai para a batalha da sobrevivência diária;

Alguém com lágrimas para os momentos de alegria, tristeza, desapontamento e solidão, mas sempre com serenidade;

A que, apesar de desafinada, tem sonoridade angélica capaz de entoar as melhores canções e silenciar o mundo na hora do filho descansar;

A que, mesmo diante do infortúnio, nunca deixa de lutar, se vestindo de esperança, erguendo a bandeira da paz;

Uma mãe capaz de derramar lágrimas de saudade e dor, mas que, ainda assim, incentiva o filho a buscar sua felicidade e progresso;

Uma mulher de lábios ternos, capaz de cantar canções de ninar, consolar o filho arrependido, falar de Deus, de amor e da beleza da vida.

Mãe dotada de vários olhos para ver através de portas fechadas, perguntando o que os filhos tramavam no quarto. Anjo com olhos para ver o que não deveria ver, outros para ver o que precisava saber e, naturalmente, olhos para ver com doçura um filho em apuros, dizendo: “Eu te compreendo, não tenha medo, eu te amo”, mesmo em silêncio.

Acima de tudo, uma mulher, uma mãe, a que torna o mundo encantado e a vida um laurel, um hino de amor!

Alguém que, diante de todos os desafios diários, com ou sem escolaridade, com ou sem posição socioeconômica privilegiada, do campo, da cidade, casada, solteira, largada, viúva, separada, com ou sem companheiro ou companheira, de nacionalidade pátria ou estrangeira, de pele escura, branca, multicores, natural ou tingida, rica ou pobre… sendo mãe, biológica ou do coração, em qualquer dimensão do globo terrestre, possa ser o espelho da gênese da criação, com os predicados e virtudes para os quais foi pensada e criada, sendo: “a imagem e semelhança de Deus!” Mas, diante de tudo isso, quanto mais me aprofundo, não encontro outra palavra que resuma este fantástico ser senão a palavra amor.

Certamente, alguns poderiam dizer que, segundo o Livro do Gênesis (Bíblia Sagrada), Deus fez o homem e, na sequência, retirou uma de suas costelas e dela fez a mulher. Eu até entendo a metáfora bíblica e o grande valor teológico que valoriza o princípio da unidade que tal explicação suscita. Mas sigo me questionando: se ficaram tanta carne nobre, ossos, tecidos, nervos e o cérebro intactos no doador da costela, por que o homem não apresenta instintos maternos similares ou superiores ao sacerdócio de ser mãe, com todas as suas habilidades?

Se, pois, o Criador quis que o homem e a mulher fossem as duas metades da criação, convergindo ou divergindo socialmente com argumentos fundamentados, eles não precisam se repelir; basta se completarem.

Prefiro me abster de tal aprofundamento, trazendo apenas uma reflexão a partir dos multimilagres que só o ser “mãe” é capaz de operar.

E eu prossigo me perguntando, responda-me quem souber e puder: afinal, de que matéria-prima Deus fez mesmo a mulher?

Quixadá – Ceará, 07 de março de 2025.

Prof.: Antônio Martins de Almeida Filho

Imortal da AQL – Cadeira 28




Comentários

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  1. Palavras de um ser humano magnífico professor educador que admiro muito.

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