Não tenho fé suficiente para ser ateu (Parte 1) – Sobre o que o ateísmo não é

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O diálogo sobre a existência de Deus é, possivelmente, o mais importante de todos, pois é definitivo para nossa visão do mundo, para nossas perspectivas pessoais sobre a vida, o passado, o presente e, sobretudo, o futuro.

Antes de qualquer coisa, permita-me dizer que não tratarei aqui sobre religião. Também não usarei a Bíblia. Ater-me-ei simplesmente a argumentos de cunho filosófico, que se referem, por extensão, à lógica e à razão, bem como ao conhecimento disponibilizado pela ciência moderna, para lidar com o tema proposto. Será, então, uma questão de afirmar razões filosóficas e lógicas para uma certa dedução (a existência de Deus) que considero mais plausível que o ateísmo e mais coerente com todo o escopo da realidade que nos está disponível para análise.

penseGostaria de deixar claro, também, que não sou membro praticante de nenhuma organização religiosa específica e não professo, atualmente, nenhum credo formulado por qualquer grupo religioso. Ademais, acho importante dizer que não buscarei afirmar a existência do Deus da Bíblia, muito menos definir seu caráter, restringindo-me com cuidado aos limites impostos pelas evidências que vou expor.

Não tenho fé suficiente

Não sou ateu e a razão é simples: não tenho fé suficiente para sê-lo. E desde quando é preciso ter fé para ser ateu? Ora, quanto menos evidências alguém tem para sua posição, mais fé precisa para acreditar nela (e vice-versa). E é absolutamente válido dizermos que os ateus precisam de muito mais fé do que nós, que acreditamos na existência de um criador inteligente, para acreditarem no que eles acreditam. Espero demonstrar, ainda que de forma modesta, que isto é verdade.

Apenas a título de ilustração para este argumento, considere o seguinte: um único grama de DNA armazena tanta informação quanto um trilhão de CD’s (1). Bem, eu acredito que somente um ser inteligente poderia criar algo assim. Os ateus acreditam, por sua vez, que forças naturais não inteligentes podem fazê-lo. Qual posição tem mais evidências a seu favor? Ora, toda a experiência da nossa realidade favorece a posição de que algo que demanda inteligência só pode ser produzido a partir de uma inteligência. Isto é tão lógico que chega a ser intuitivo.

Ao falar em evidências, porém, cuido logo em adiantar que Deus não pode ser provado através do método empírico, pois isso seria uma falácia metodológica. Deus é, por definição, um ser metafísico, isto é, para além da realidade material,  e, portanto, é papel da filosofia evidencia-lo. Logo, não espere que eu lhe traga uma fórmula matemática ou um conjunto de leis físicas que provem a existência de Deus. Lembre-se de que não quero provar nada, apenas defender, através de argumentos filosóficos e do apelo à lógica e à razão, que há mais evidências apontando para a existência de Deus e, consequentemente, que é preciso ter muito mais fé para ser ateu.

O que o ateísmo não é

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O ateísmo não é a ausência de crença, mas a afirmação de uma crença: a de que Deus não existe.

Derrubemos, logo de cara, um mal entendido: ateu não é aquele que diz que pode ou não existir um Deus, mas que isto não pode ser provado por qualquer dos lados da questão. Este é o agnóstico, e mesmo o agnosticismo é uma afirmação de crença. O ateu, por sua vez, afirma categoricamente que Deus, ou deuses, não existem. Portanto, o ateu tem a sua crença. Ele acredita que Deus não existe. Ele confia nesta conclusão, está convicto dela e, portanto, tem fé nela. O ateísmo não é a ausência de crença, mas a afirmação de uma crença: a de que Deus não existe. Uma pedra não pode propôr que Deus não existe. Proposições de qualquer tipo não lhe são próprias. Um ateu – diferente de uma pedra – pensa, raciocina, desenvolve uma convicção pessoal e propõe que Deus não existe. Esta é sua crença.

Ao propôr que Deus não existe, o ateu afirma o que é conhecido como naturalismo metafísico, isto é, a ideia de que não existe nada além do mundo natural, para se dizer em termos simples. Estabelecida esta forte conexão entre ateísmo e naturalismo, o ateu terá de sustentar uma das duas seguintes opções: (A) O universo surgiu do nada ou, poderíamos também dizer: a existência de alguma coisa pode se dar a partir da não existência de coisa alguma; ou (B) o universo sempre existiu. Mais à frente nesta série veremos em que enorme encrenca isto coloca o ateísmo.

Assim como a visão oposta, o ateísmo é, portanto, isto: uma crença, e uma do tipo que exige fé. Muita fé. Como sabemos, a fé preenche lacunas no conhecimento. Desta forma, ao invés de perguntar: “Deus existe?”, e daí tentar mostrar que sim, vou adotar outro caminho. Minha indagação será: “Qual das duas posições tem mais evidências disponíveis e, portanto, exige menos fé?”

Acompanhe esta série de matérias. Dê sua opinião, aqui ou nas redes sociais. Compartilhe este link. Rejeite o preconceito sobre este tipo de diálogo. Ao contrário do que muitos talvez digam, o diálogo sobre a existência de Deus é, possivelmente, o mais importante de todos, pois é definitivo para nossa visão do mundo, para nossas perspectivas pessoais sobre a vida, o passado, o presente e, sobretudo, o futuro.

Conto com você na sequência da série NÃO TENHO FÉ SUFICIENTE PARA SER ATEU.

SÉRIE: Não tenho fé suficiente para ser ateu

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(01) Scientific American, “Computing With DNA”, de Leonard M. Adleman, agosto de 1998, p. 61.

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15390729_1326133494093184_3751846619284145365_nPor Gooldemberg Saraiva

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Comentários

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  1. Não tenho fé suficiente para ser ateu (Parte 1) – Sobre o que o ateísmo não é | MonólitosPOST Sou Ateu e estou indicando este site de Namoro Ateu! Quem procura um amor ou amizades e é Ateu, acesse http://www.namoroateu.com.br/ Fica a Dica Amigos!
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  2. E eu não sei porquê um Deus que NÃO EXISTE incomoda tanto os ateus. Se Ele não existe, porquê vivem falando nEle???
    É preciso realmente, MUITA FÉ PARA SER UM ATEU, e essa eu não tenho!!!

  3. O fato de muitas coisas serem explicadas pela ciência não significa automaticamente que Deus não existe. Isso é um NON SEQUITUR absurdo. Uma coisa não conduz à outra e ainda ignora completamente o FATO de que foi a cosmovisão teísta que fundamentou o surgimento da ciência moderna. Não precisamos das lacunas para crer em Deus pois são justamente as descobertas CIENTÍFICAS que têm embasado as afirmações teístas sobre o universo. É o ateísmo que tem que torcer para que o conhecimento não continue avançando uma vez que este avanço só tem apontado para a existência de um Criador.

  4. Resumindo o texto…. “Sabemos que deus não existe, mas vamos enrolar até se caçarem e aceitar a existência do amiguinho imaginário”…. Não há mais o que questionar, se você analisar o conhecimento cientifico atual a maior parte da complexidade das coisas são explicado pela ciência, já a existência de “deus” é apenas uma suposição para preencher lacunas das pessoas que não conseguem aceitar a realidade… Antes eu pensava essas pessoas não queriam aceitar a realidade, mas com o tempo percebi que elas simplesmente não conseguem….

  5. Lêda, não tem incômodo nenhum. Só me senti livre para questionar, assim como os ateus são livres para questionar também. Grande abraço.

  6. Não sei porque as pessoas se sentem tão incomodadas com os ateus.

  7. Este texto, é um belo exemplo do que encontramos no livro de Arthur Schopenhauer: Como vencer um debate sem precisar ter razão, utilizando-se de uma dialética erística, onde seus argumentos conseguem persuadir com grande sucesso, porém sendo inconcluso.

  8. “Ora, quanto menos evidências alguém tem para sua posição, mais fé precisa para acreditar nela (e vice-versa).”
    E é por esse pequeno trecho que você escreveu que a esmagadora maioria dos grandes cientistas são Ateus.

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