Para vocês, suas lindas!

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“Ô lugar para ter mulher bonita!”, exclama o visitante. E o amigo, sorridente, cheio de pernas, aponta: “Esse é o meu Quixadá.”

Hoje é um dia em que podemos, por largos instantes, esquecer todos os problemas, caros machos. Hoje é o dia delas. Não esqueça isto. Adapte-se ao dia de hoje. Já encomendou as flores? Corra! Hoje é tudo delas, é tudo sobre elas. Elas, que tem dominado o mundo e, com a elegância que lhes é peculiar, nos collage2fazem pensar que temos tudo sob controle. Que nada! Quando você é, por um momento, o cabeça, ela é o pescoço, companheiro. Quando somos os reis, elas são as coroas de glória a enaltecer-nos. Quando empunhamos a espada do dia a dia, afinal não é por elas? É, é por elas. É tudo por elas. Vida triste é a do homem que não reconhece e não se inclina ante o óbvio, evidente e delicioso império das mulheres. Perca a sua fé, machista, pois o mundo sempre foi, é, e sempre será delas. É muito melhor render-se e aproveitar aqueles encantos, do que passar o tempo todo feito tolo, a pensar que os homens são os donos do mundo.

E eu que não sou bobo, já vou dedicando a todas elas o poema a seguir.

Menina e Moça

Poema de Machado de Assis

Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.

Outras vezes valsando, e’ seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.

Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.

Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.

Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!

Ah! se nesse momento alucinado, fores
Cair-lhes aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar dos teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.

É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!

Machado de Assis, in ‘Falenas’, dedicado a todas as mulheres

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Comentários

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  1. Quem dera todas as manhãs fossem assim, trazendo uma manchete de amor e respeito, seja lá a quem fosse.
    Seu lindo, hoje seu blog nos fez sonhar com um mundo melhor, mais justo, mais igual, mais lindo!
    Gratidão!

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