Monólitos Post

Se havia alguma dúvida de que  Cid Ferreira Gomes, governador do Ceará e principal cabo eleitoral de Camilo Santana, carrega – não sei se por uma incontrolável tendência familiar-, um arraigado espírito de ditador, esta dúvida foi completamente dissipada no decorrer desta semana, com a explosão do caso de CENSURA DESCABIDA  à revista IstoÉ.

O episódio repercutiu internacionalmente, com associações de imprensa em vários países condenando a ação da justiça brasileira, pomposamente acionada por Cid.

Em sua última edição, a IstoÉ publicou uma reportagem na qual o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, cita Cid Gomes como um dos envolvidos no suposto esquema de corrupção na estatal. Embora Cid tenha, inicialmente, negado ter tido qualquer tipo de contato com o ex-diretor da estatal, a informação logo foi desmentida com a publicação de foto em que os dois aparecem em reunião.

A justiça do Ceará proibiu a circulação da revista em todo o Brasil e determinou que  a página do periódico na internet retire a reportagem que cita o governador. A proibição partiu da juíza Maria Marleide Maciel Queiroz, curiosamente, uma titular da Vara de Família, embora nenhuma família, nenhuma criança, nenhum casal sejam expostos. A proteção da medida é para Cid, exclusivamente para ele. Estranho, não é?  Vamos parar um pouco para assistir este vídeo. Em seguida voltamos.

O Tribunal de Justiça do Ceará não fala sobre o assunto porque alega que o caso corre em segredo de justiça. Na página da Isto É na internet, foi postada uma nota afirmando que a revista estuda medida judicial que garanta seu direito constitucional de informar à sociedade assuntos de interesse público.

A Federação Nacional de Jornalistas classificou o episódio como censura prévia e lamentou que juízes de primeira instância possam interferir na liberdade de imprensa.

A Associação Brasileira de Imprensa repudiou a decisão da justiça do Ceará. Disse que se trata de um gravíssimo atentado, inconstitucional, contra a liberdade de imprensa e informação.

A Sociedade Interamericana de Imprensa, com sede em Miami, nos Estados Unidos, disse que esse é um caso grave de censura à imprensa e que não lhe é estranho porque a censura prévia judicial do Brasil é a pior da América Latina.

O órgão disse ainda que essa decisão contraria a convenção dos direitos latinoamericanos: o artigo 13 dessa convenção proíbe a censura prévia que também é proibida pela OEA – a Organização dos Estados Americanos.

À parte destas considerações, a ação de Cid Gomes revela uma falta de inteligência estratégica que só se justificaria num regime semelhante ao nazismo, onde todos os meios de comunicação se voltavam apenas para a exaltação do líder nacional. Hitler era tido praticamente como um deus, e recebia total devoção de seus compatriotas. Toda verdade era relativa, menos a verdade de Hitler. Será este o modelo que Cid Gomes sonha para o Ceará?

Na verdade, a atitude autoritária de Cid Gomes em face da publicação da revista IstoÉ não foi um ponto fora da curva, antes, está completamente alinhada ao seu estilo de governança. Tome-se em consideração, por exemplo, a relação de Cid com o PT.

O PT cearense se tornou capacho de Cid, obedecendo-lhe sem pestanejar, como um zumbi sem vontade própria, desalinhado de sua postura partidária histórica. A função do PT no Ceará, hoje, é abanar o imperador em seu trono, sorrindo quando ele pede, dançando e pulando quando ele ordena, cantando e contando piadas quando sua vontade recomenda, tal como faz o bobo da corte que, não obstante os privilégios associados ao posto, não passa de bobo da corte.

Se há um filiado petista satisfeito com o tratamento dispensado pelo governador ao seu partido, coitado, é daquele tipo a quem a sapiência do Compadre Washington pode ser aplicada: “Sabe de nada, inocente!”

Outra imposição de Cid ao Ceará, com todo o viés ditatorial que lhe é peculiar, foi a construção do faraônico Aquário, em Fortaleza. Uma obra que levará dos cofres públicos de um Estado onde cidadãos ainda sofrem com a sede e ainda procuram água em ancas nas costas de jumentos mais de um bilhão de reais. Não obstante todas as vozes em contrário, Cid bateu o pé e mandou ver. As prioridades que se lixem!

Agora, na campanha eleitoral, Cid Gomes tenta emplacar sua mais nova imposição aos cearenses: Camilo Santana, do partido dos bobos da corte. Associados à campanha de Camilo acusam adversários de serem “riquinhos” em busca do poder e, por trás da cortina, é o candidato dele, do imperador da Abolição, que já gastou praticamente o dobro do que gastou todos os oponentes juntos. E a estrela do PT? Cid transformou numa bola, onde o número de campanha aparece. Sinal dos tempos. Dos tempos em que no PT manda o imperador do Abolição.

E não vou nem falar aqui sobre os R$ 3 milhões em canapés, sobre o show milionário com Plácido Domingo, sobre a contratação da “vevete” por 600 mil para inaugurar hospital inacabado, sobre a viagem com a sogra para o exterior em jatinho pago pelo governo do Estado, etc. Essas coisas são detalhes de uma ditadura familiar com presepadas muito mais descabidas.

O tiro de Cid, no entanto, típico de ações burras, saiu pela culatra. A revista IstoÉ já se esgotou nas bancas e, assim que a justiça liberar a publicação, as gráficas vão dobrar a produção do mesmo exemplar, que vai se esgotar de novo. Movimento semelhante ao feito pelo prefeito de Quixadá, em 2013, contra o pseudônimo Jaime Arantes, resultando em o “trambei” se tornar conhecido em todo o Estado do Ceará.

Hoje, Jaime Arantes possui contatos com jornalistas de alguns dos maiores veículos de comunicação do Ceará. Até a Globo News, a Rede Record e outros de alcance nacional já se serviram do Jaiminho. Falo isto sem orgulho jactancioso, mas apenas para ilustrar a que ponto inesperado pode chegar ações que buscam impedir a sociedade de se informar.

Cid errou feio outra vez. O padrão dele, no entanto, é este. Sorte dos cearenses que ainda dá tempo evitar que o mesmo espírito ditatorial, coronelista, continue a pulsar neste Estado.