É inegável que fica esquisito Quixadá sem carnaval na praça José de Barros. Apesar de não ter ido ali em outros carnavais, entendo e respeito quem tem o apreço que eu não tenho pela data.
À parte da nossa variedade de gostos, reconheço que a cidade sem suas festas típicas – referências para todo o Estado -, atraindo milhares de visitantes e incrementando a economia local, faz falta e é prejudicial aos interesses estratégicos da coletividade. Festas deste tipo, numa hierarquia de prioridades que a coloquem em seu devido lugar, tem sua importância.
Quanto ao atual cenário, acredito não ter sido o único que verificou a tentativa de alguns de tirarem sua medida de proveito político da atual situação embaraçosa. Nos últimos dias, o vereador Higo Carlos (PT), por exemplo, fez isto abundantemente nas redes sociais das quais participa.
Honestamente, nem este vereador ou qualquer grupo político em Quixadá tem moral suficiente para dizer que está isento de culpa da situação pela qual passa o município atualmente. Se por um lado a gestão municipal deixou a desejar nos últimos anos, por outro vimos uma oposição que se dedicou apenas a fazer muito barulho, muito marketing e pouco, bem pouco para alterar, de fato, o rumo que o município tomou. Prevaleceu o velho modus operandi do “quanto pior, melhor”.
Depois, convenhamos, não é possível comparar gestões sem considerar o contexto mais amplo no qual elas se desenvolvem. Qualquer outra abordagem que desconsidere isto ou é ignorância ou campanha eleitoral.
Neste sentido, é importante reconhecermos que o Brasil no qual a atual gestão municipal acontece é completamente diferente daquele Brasil do primeiro e início do segundo governos do ex-presidente Lula. Aquela situação econômica favorável que permitia margem mais ampla de atuação das três esferas governamentais já não é a realidade de hoje. No Ceará, a título de exemplo, o governo do Estado, pelo segundo ano consecutivo, não fez nenhum repasse destinado às festas de carnaval. Isto é sim relevante para a consideração desta questão.
“Mas há municípios em que as coisas funcionam bem”, dirá o apaixonado. Mas o que isto tem a ver? O fato de um município estar melhor que outro porventura elimina a realidade de crise no país? Claro que não. E no que diz respeito à responsabilidade pela economia brasileira, alguns políticos deveriam olhar para o próprio quintal antes de tudo o mais.
O engraçado é que, quando se fala sobre a crise econômica brasileira, os defensores do governo logo indicam o contexto maior de crise econômica mundial. Quando se trata de considerar a crise dos municípios, porém, esquecem a crise nacional. É o tipo de argumentação fajuta destinada a esconder a própria responsabilidade pelas circunstâncias. Isto, obviamente, não livra a gestão atual da sua maior medida de responsabilidade pelo cenário que aí está.
O pior de tudo, no entanto, é que este apelo dos políticos de sempre para que as pessoas comparem este com aqueles outros carnavais revela algo muito ruim a respeito da nossa sociedade: ela foi “educada” para julgar a bonança dos períodos políticos, o êxito das administrações, por fatores tais como os carnavais que lhes são oferecidos. Enquanto prevalecer este tipo de pensamento, os mais sabidos sempre terão espaço para enfiar goela a dentro medidas básicas que, sem a crítica mais racional e exigente, acabam tomadas como grandes feitos.
Por esta razão, Quixadá até hoje não tem um hospital à sua altura. O turismo – chave mestra do desenvolvimento econômico neste município-, nunca recebeu os investimentos de que necessita. O Açude Cedro, com sua imponente Pedra da Galinha Choca, nosso maior cartão postal, mais parece um quintal velho, desarrumado, espatifado, onde o dono da casa sequer anda. A infraestrutura geral é péssima. As melhorias foram básicas, planejadas para curto prazo, deixando-nos hoje, por exemplo, reféns de avenidas estreitas e trânsito caótico. O Instituto de Previdência de Quixadá é, há muito tempo, a “casa da mãe Joana”, mais arrombado do que qualquer outra coisa. E, apesar desta realidade se arrastar há muitos anos, como é que alguns políticos querem que as pessoas avaliem a realidade da nossa terra? Pelo carnaval que lhe é dado!
Galeria de fotos que mostram o descaso histórico com o Açude Cedro:
Junte todo este histórico descaso com tudo aquilo que sabemos sobre a atual administração municipal e o quadro aparecerá como ele realmente é. É possível ponderar sobre conquistas importantes, claro, mas negar que o município implora por algo diferente e melhor é fechar os olhos e aceitar o pão e o circo com os quais insistem em tentar acostumar a nossa sociedade.
A lamentação pelo carnaval que não teve na Praça José de Barros este ano é razoável e justa. Porém, muito mais lamentável que isto é tudo o que os quixadaenses deixaram de exigir a todo custo ao longo de tantos anos a troco de carnavais melhores.
Distraídos com o circo que nos ofereceram, nem vimos o carnaval que fizeram com a nossa cara.
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Perfeito texto. So temos que lamentar e pensar bem em outubro.
Excelente. Faz muito tempo que Quixadá não tem uma gestão municipal destacável. Essa crise atual é muito culpa da atual gestão, mas de fato não se pode esquecer os erros das administrações anteriores, que condenaram Quixadá à irrelevância, ao ostracismo, ao esquecimento.
Só li verdades. Ah destacar a ultima frase…