O fenômeno da rejeição da liberdade

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camiseta-gaiola-aberta-estampas-exclusivasO exercício responsável da liberdade concede aos homens e mulheres de bem grande satisfação. Dá às suas vidas conteúdo positivo, direção e sentido. Por outro lado, a ausência de liberdade impõe limites à manifestação de identidade própria, consequentemente comprometendo a felicidade e os sentimentos de auto-realização dos indivíduos.

A defesa do direito de exercitar a liberdade tem sido um dos principais motores de propulsão da história da humanidade e a força configuradora responsável por fazer deste mundo exatamente o que ele é hoje. De fato, o direito ao exercício pleno da liberdade esteve e ainda está associado ao centro das principais disputas empreendidas neste mundo.

Pesadas Implicações

O exercício da liberdade traz consigo pesadas implicações. Sua prática impede, por exemplo, que se transfiram responsabilidades que não pertencem a nenhum outro, a não ser ao indivíduo livre. O homem livre é o senhor de suas decisões e, por conseguinte, plena e exclusivamente responsável pelas consequências de cada uma delas.

Sem liberdade, conceitos como o de “pecado”, de “infração”, de “transgressão”, de “culpa” ou mesmo de “crime”, não fariam qualquer sentido, uma vez que, sem a possibilidade da escolha, não haveria qualquer possibilidade de inferir-se responsabilidade pela tomada das decisões. Agiríamos de um certo modo porque simplesmente não haveria um modo diferente de agir.

Para ilustrar este raciocínio, podemos fazer as seguintes perguntas: Por que o cachorro morde? Porque o escorpião ferroa? Porque os leões matam? Ora, cachorro é cachorro, escorpião é escorpião e leão é leão. É precisamente por não terem a possibilidade da escolha que eles não podem ser responsabilizados por suas ações.

Assim, o escorpião que deposita seu ferrão venenoso na mão de uma senhora idosa que, descuidadamente, limpa objetos velhos há anos esquecidos em seu quintal, não pode ser acusado de ter feito alguma maldade. Escorpião é escorpião.

Nós, humanos, porém, somos animais conscientes, inteligentes e, desta forma, capazes de discernimento, de realizar avaliação das diferenças entre uma situação e outra, entre uma circunstância e outra. Somos capazes de atribuir valor e de eleger uma hierarquia de valores. Somos capazes de fazer escolhas e deixar que nossas ações sejam guiadas por princípios que podemos, em plena liberdade, adotar como nossos.

Renegando a Liberdade

cerebro-acorrentadoA liberdade é, em si mesma, um valor. Assim sendo, é surpreendente quando observamos pessoas renegando esta sua condição de liberdade – que lhe é intrínseca (pois o homem é livre por natureza) -, e concedendo a outros indivíduos ou grupos de indivíduos a tarefa de fazer escolhas e tomar decisões, quando escolher e decidir só a elas caberia.

Esta conduta não deixa de ser, por sua vez, também um certo exercício esquisito de liberdade: a liberdade de escolher negar a própria liberdade. Mas o que, afinal, motivaria um indivíduo livre a entregar a outros seu direito natural de fazer escolhas? Ao que parece, a motivação para a rejeição da própria liberdade não raro tem a ver com o desejo de livrar-se da responsabilidade por aquilo em que se acredita, por aquilo que se pratica ou por aquilo que se deixa de praticar.

Parece mesmo ser mais confortável transferir responsabilidades. Isto tende, por exemplo, a minimizar sentimentos de culpa, pois o indivíduo pode alegar que só acreditou, só pensou, só falou e só agiu de um certo modo porque os entes a quem a sua própria liberdade foi substabelecida assim determinaram.

Tal indivíduo pode, inclusive, com base nesta mesma muleta argumentativa, empreender ações que de própria iniciativa ou por escolha exclusivamente particular, jamais empreenderia. Exemplifico isto com a religião, repetindo uma frase do físico estadunidense Steven Weinberg, que afirmou:  “Com ou sem religião, pessoas boas farão coisas boas e pessoas más farão coisas más. Mas para que pessoas boas façam coisas más, geralmente uma religião é necessária.”

De fato, não há, talvez, nenhum outro campo em que este comportamento seja tão claramente observável e com efeitos tão imediatos e dramáticos sobre a vida dos indivíduos e sobre a sociedade quanto no campo religioso, embora o fenômeno também se manifeste em outros tipos de coletividade.

Consciência Cedida 

Muitas pessoas, de fato, tem cedido suas consciências para serem moldadas conforme as determinações dos líderes dos grupos aos quais pertencem. O efeito potencial disto, certamente, não deve ser desprezado. Quando elas assim o permitem, deliberadamente ou por serem vítimas de manipulação, o grupo molda-lhes a personalidade, influencia-lhes nas escolhas mais importantes da vida, direciona-lhes em caminhos que, de outros modos, jamais seriam experimentados.

Obviamente, isto não significa dizer que as consequências do pertencimento a um grupo específico, religioso ou não, seja de todo má. De modo algum! Porém, até que ponto as pessoas estão abrindo mão da sua individualidade, da sua identidade, das suas consciências e, concordemente, da liberdade, apenas para se conformarem a um modo de vida determinado por condicionamento social, por um líder de grupo ou por um grupo de líderes? Isto é mesmo importante? Dadas as implicações sobre a vida dos indivíduos e, também, sobre como isto acaba, de modo geral, afetando a própria sociedade, com toda certeza é importante! Basta perceber que a liberdade é o espaço que a felicidade precisa.

Concluindo Sem Concluir

O assunto é, deveras, instigante e poderia ser prolongado a ponto de preencher um livro. Realmente, muitos livros tem sido escritos com a finalidade de explorar esta temática.

No final das contas, cabe a cada indivíduo determinar, através de um exercício de auto-análise, até que ponto sua vida é uma expressão do que ele é de verdade ou se é apenas uma sombra da vontade e do controle de terceiros. Até que ponto sua vida é um reflexo das próprias escolhas, ou um mero exercício de determinações alheias. Até que ponto, afinal, pode dizer que é realmente livre.

“O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado.”

–  Jean-Jacques Rousseau

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Por Gooldemberg Saraiva / Contato: (88) 9 9972-5179. / E-mail: bergsaraiva@gmail.com




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